Rubens Mauro Fidelis Júnior

 

O ENSINO DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO FACEBOOK: REPENSANDO NOVAS FORMAS DE SE ENSINAR NO SÉCULO XXI E EXPERIÊNCIAS COM A PLATAFORMA NO PIBID

 

O presente trabalho irá buscar debater sobre a criação e o impacto das redes sociais – como se deu esse processo no início do século atual, focando especificamente no Facebook e através do impacto dessa plataforma pensar a mesma como uma das muitas formas de TIC’s que podem ser utilizadas em um ambiente escolar, além de contar brevemente sobre a experiência com a rede social no projeto PIBID. Logo, o artigo se trata de um relato das vivências dos pibidianos do curso de Licenciatura em História, da Faculdade de Ciências Humanas na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Destacamos que nossas atividades foram orientadas pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo da Costa Campos - UFMS, além de contar com a supervisão da Profa. Ma. Camila Comerlato – SED/MS, nas aulas de História das turmas do 1° ano do ensino médio, da Escola Estadual Joaquim Murtinho, entre 2020 e 2021.

 

A criação das redes sociais e sua inserção no século XXI

O século XX tornou-se indubitavelmente um mundo mais conectado. Nesse sentido, faz-se interessante citarmos a globalização que se tornou efervescente em meados dos anos 80 do século passado e essa “aldeia global”, termo defendido principalmente por Marshall McLuhan, ainda nos anos 60, que significava essa estreita relação do homem com a comunicação ao passar do tempo. Chegando no século XXI, com a globalização solidificada ao redor do mundo, temos a imersão social das pessoas na internet, que antes era algo incomum, não mais; dentro desse escopo, uma “sacada” muito inteligente de grandes corporações, foi a criação das redes sociais, que seria nada mais que essa conexão virtual entre pessoas de todo o mundo. As redes sociais se amplificaram e teve como o seu principal expoente o extinto Orkut, que na época foi uma revolução para tudo que se tinha comparação - a possibilidade de conversar, jogar, compartilhar com pessoas que estão a milhares de quilômetros de distância foi algo que destacou a rede, depois disso houve o Facebook, Twitter e blogs tornaram-se cada vez mais comuns (SERAFIM E SILVA,2016, p. 67-72).

 

A grande jogada das redes sociais, trata-se da forma inteligente que é disposta aos usuários, afinal ele pode se conectar com outras pessoas, bem como seguir tópicos que ele se interessa. Além disso, o usuário permanece ligado à rede mesmo quando não está interagindo nesse espaço. Vale mencionar que é possível gerar vínculos que possibilitam uma sensação de pertencimento a uma comunidade que ele se identifica. Em consonância, não podemos esquecer do papel dos estudantes mediante a essas novas tecnologias que foram e estão sendo inseridas dentro da comunidade escolar. Afinal, devemos fazer com que as redes se tornem realmente mecanismos de pesquisa e que possam ser efetivas num ambiente escolar. Sendo assim, se faz necessário pensar em novas possibilidades nesse horizonte, em que o professor seja o principal mediador nessa relação - na qual sempre exige e exigirá uma constante transformação do “modus operandi” do professor e do corpo docente na forma de ensinar nesse cenário cada vez mais tecnológico proporcionado pela internet, tecnologias da informação e afins. Ainda nesse viés, não se trata apenas de utilizar-se dessas ferramentas contemporâneas “apenas” para se adaptar ao linguajar moderno dos jovens que muitas vezes dominam essas tecnologias. A rede social e a tecnologia não se bastam por si, pois necessitam da intervenção e “guia” do professor para dar-lhe o sentido necessário para o ensino-aprendizagem.

 

O Facebook e seu impacto na sociedade atual

Desde o boom das redes sociais, iniciado com o Orkut como já supracitado no texto, surgiram diversas outras redes sociais no espaço cibernético, mas talvez nenhuma delas teve o sucesso e o impacto do Facebook para a época. Entretanto, para compreendermos a dimensão desse impacto, precisamos definir o que de fato é o Facebook: trata-se de um website público em que seus usuários expõe as suas opiniões, fotos, ideias sobre assuntos, fazem páginas/fã-clubes para pessoas famosas, mas também se comunicam entre si numa espécie de bolha social determinada por cada usuário. Tendo como “local de nascimento” os Estados Unidos da América, não demorou muito para a rede dominar o globo e em 2013 já possuía uma quantidade de usuários semelhante ou maior que todo o continente europeu, nesse sentido, pensar o Facebook, sobretudo em seu apogeu, é pensar numa das principais formas de dezenas de milhares de pessoas ao redor do mundo de se comunicar virtualmente.

 

Partindo dessa premissa, o Facebook passou a ser uma parte vital da vida das pessoas. Essa rede social foi criada por Mark Zuckerberg e amigos no início dos anos 2000 e teve aderência do público pelas inúmeras funcionalidades que prendia o usuário por horas e horas. Você iniciava na plataforma, através do feed de notícias havia uma foto de um amigo seu, onde o usuário poderia deixar um botão de “like”, em atualizações posteriores foi possível emitir inúmeras reações. Ademais, se tornou possível vasculhar e encontrar novos amigos, assim o usuário deixaria uma solicitação de amizade e aguardava pela resposta, sem contar as inúmeras páginas que compartilhavam memes, notícias e dicas. Diante do exposto, a fórmula de utilização do Facebook era/é simples, mas cativou a população no geral, sendo uma rede social de alcance bilionário, isso atraiu o interesse de inúmeras multinacionais ao redor do mundo, bem como sites de pesquisa de diversos ramos, que queria ter os dados fornecidos do usuário ao Facebook ao seu dispor – a fim de enviar propagandas, marketing mais estratégico, focando em produtos, serviços para um público-alvo direcionado (CORREIA E MOREIRA, 2014, p. 168-182).

 

Facebook e as TICs no contexto educacional

Exposto um breve histórico e o impacto causado no Facebook em milhares de pessoas ao redor do mundo desde a sua criação, faz-se necessário trazer para a realidade educacional, a qual é o foco deste trabalho. Desde a consolidação da escola nos tempos modernos é possível notarmos os desafios do magistério brasileiro. Entretanto, em nosso mundo atual, o problema do ensino-aprendizagem parece ser ainda maior: pois apenas transmitir todo o conteúdo no quadro de uma forma mais “arcaica”, parece não ser mais o suficiente, ou seja, a postura mais ortodoxa e tradicionalista trabalhada até anos atrás não soa tão eficiente, atualmente. Dessa forma, temos a inserção das tecnologias da informação/comunicação (textos, imagens, vídeos, recursos como PowerPoint etc) no ambiente escolar, que emergem como recursos a modo de dinamizar e propor novas formas de se ensinar, mas sem subtrair a importância do professor nesse cenário (SERAFIM E SOUZA,2016 p. 74-77).

 

Bruno Amorim Pantoja (2019) salienta que a utilização de novas tecnologias se configura como um grande desafio educacional, assim fazendo com que os professores tenham que lidar com uma nova dinâmica escolar, que muitas vezes os levam a abandonar dogmas já postos acerca da pedagogia. Segundo Pantoja, é de suma importância saber onde e como irá trabalhar com as TIC’s na escola, pois pode não haver equipamentos funcionando ou impossibilitados de se usar, internet no ambiente oscilando, sempre devendo se ter um “plano B” em mente. Tomando como base as autoras Moralles e Medeiros (2017), elas visualizam os recursos do facebook para a sala de aula através do mural, eventos, documentos, bate-papo e outros pontos (MEDEIROS e MORALLES, 2017, p.4-5). Corroborando com Pantoja, Moralles e Medeiros (2017) citam problemas gerais que acabam atrapalhando e sendo barreiras na utilização do Facebook, que consistem: 1- na falta de uma infraestrutura, pois há locais em que a internet não comporta tantos alunos acessando ao mesmo tempo, assim como há escassez de equipamentos; 2- falta de internet, pois a exclusão digital se configura como uma grande barreira no século XXI.

 

O Facebook e o ensino de história

É importante refletir que a plataforma estará constantemente trabalhando através de algoritmos para lhe entregar um conteúdo próximo ao que você mais consome. Entretanto, ela também funciona para impulsionar conteúdos que são pagos e outros que chegam de forma ocasional até um usuário. Nesse sentido, vamos nos deparar com as fakes news, esse termo em inglês mundialmente conhecido que numa tradução literal pode ser compreendido como notícias falsas. Entretanto, essa prática pode ter em seu escopo notícias e imagens sensacionalistas, muitas vezes com viés político ou religioso, que ferem valores morais e os direitos humanos, porém que circulam livremente na rede sob um viés de “liberdade digital” sem comprometimento com um fato histórico ou algo próximo disso (PANTOJA, 2019, p.52-54). Logo, pensar em formas eficazes de se ensinar história também passar pelo olhar sobre as fake news, assim fazendo com que o aluno possa filtrar informações de forma consciente e crítica, evitando-se a reprodução desses conteúdos sem nenhuma espécie de análise minimante apurada. Ainda nesse contexto das fakes news, torna-se desafiador para o profissional da educação este cenário confuso das redes sociais, no qual ele é confrontado pelo estudante por notícias que ele viu em um site de qualidade duvidosa. Todavia, é através desse diálogo e relação estabelecida no meio escolar que é possível tornar a aprendizagem mais fluida e livre de amarras – na qual o professor pode sugerir sites, repositórios digitais, vídeos mais confiáveis ao aluno – que graças as inúmeras tecnologias da informação tornam isso facilmente possível de ser estudado (PANTOJA, p. 54-60).

 

Para além do obstáculo e desafio caracterizado pela fake news, há muito mais no oceano do ensino de história no Facebook, como bem ilustrado por Pantoja: na qual através de um trabalho de campo em duas escolas que ele atua captou os dados acerca do uso de seus alunos na rede social Facebook, além de outras perguntas sobre o tempo e qual a finalidade de usar a plataforma (PANTOJA, 2019, p. 71-77). Nesse sentido, o autor conta que através do Facebook fez um grupo na qual contava com inúmeros alunos tendo o professor como moderador, facilitando questões como o que ser postado, filtros de publicações e uma utilização melhor do grupo – como havíamos citado, a rede através de uma simples funcionalidade pode abarcar diversas pessoas e transformar aquilo em um espaço prolífico para a aprendizagem – nesse caso no ensino de história. Pantoja também continua contando sua experiência com base nos memes, que é um dos principais símbolos da rede que teve uma explosão no início da década passada, tornando-se sinônimo de comunicação entre os jovens. O interessante ao fazer uso do meme, muito além do aspecto cômico/engraçado que a imagem traz é trabalhar com o conteúdo que o meme traz – como no exemplo do professor Pantoja, para compreender o meme deveria entender o contexto da Primeira Grande Guerra, sendo assim atribui um significado histórico para o recurso - não apenas o utilizando “por utilizar” - sem contar que a dinâmica das interações e contato com os alunos torna a experiência ainda mais animadora (PANTOJA, 2019, p. 78-84).

 

Diante do exposto, podemos verificar o mar de possibilidades criadas pela plataforma, que com alguns “ajustes”, torna plenamente possível sua utilização para o ensino de história na atualidade. A ideia do grupo no Facebook, como espaço de discussão e exposição de ideias é uma das diversas possibilidades na rede, através de memes, compartilhamento de notícias, imagens e um filtro das mesmas, a aprendizagem com a utilização dessa plataforma se faz possível nesse contexto educacional – sem contar uma maior aproximação gerada pelo educador e educando nessas novas configurações sociais postas (PANTOJA, 2019, p. 84-87; MEDEIROS E MORALES, 2017, p. 6-8).

 

A experiência do uso do Facebook do PIBID Hist-FACH

Ao decorrer do projeto do PIBID de História da FACH / UFMS (2020-2022), o coordenador do projeto, Dr. Carlos Eduardo da Costa Campos, sugeriu a ideia da criação de redes sociais do projeto – a fim de divulgar o que estávamos fazendo bem como mostrar ao público o resultado do investimento feito no mesmo. Dessa forma, fizemos a escolha de se trabalhar prioritariamente no Instagram e no Facebook, duas das redes sociais mais famosas e acessadas atualmente – dessa forma ficaria ao encargo de todos os pibidianos a manutenção e a alimentação dessas duas redes sociais com posts que traduzia o que fazíamos ao decorrer dos meses. O discente Rubens M. F. Júnior, ficou encarregado de realizar os posts na plataforma tema deste breve ensaio, o Facebook. O pibidiano citado, além de ser um dos administradores da página, também gerenciou os relatórios sobre a quantidade de likes que foram recebidos, o alcance das publicações, quem segue/curte a página, além de notificações diárias e dicas para dar um “upgrade” na página. A experiência do uso do Facebook ao todo foi positiva. Os discentes da Escola Estadual Joaquim Murtinho (Campo Grande-MS) interagiam conosco, bem como o público em geral, tornando-se um espaço instigante de aprendizado. Ao todo, tivemos mais de duzentas pessoas alcançadas em nossas atividades, porém, diferentemente do instagram, verificamos que o alcance das publicações do facebook era/é um pouco menor fazendo uma comparação direta. Todavia, isso não torna o trabalho realizado na plataforma inferior ou algo do tipo, pois a interação com os seguidores e além disso o compartilhamento do produto para a comunidade torna a caminhada menos árdua e possível de se realizar. Deixamos o link de nossa página para consulta e análise:

 https://www.facebook.com/PIBIDHISTFACHUFMS

 

Conclusão

Diante do que fora colocado ao longo desses tópicos, torna-se nítido a presença do Facebook em nosso dia-a-dia, sendo até uma parte vital das nossas relações sociais – concatenando com isso, é plenamente possível pensar na utilização dessa plataforma para fins pedagógicos, em um mundo em constante transformação e evolução, é um desafio diário para educadores pensar em novas formas de se ensinar, fugindo do tradicionalismo ortodoxo mas sem perder a eficácia da aprendizagem. Felizmente, com essa era digital, podemos ter acesso a uma infinidade de recursos tecnológicos, que longe de serem muletas pedagógicas, servem para auxiliar e repensar a forma de se lecionar no século XXI, uma delas, como conversado, é o Facebook – que através de suas vastas funcionalidades, podemos pensar pedagogicamente a plataforma – enriquecendo não somente o ensino como nossas relações sociais com educandos em um mundo cada vez mais conectado.

 

Referências biográficas

Rubens Mauro Fidelis Júnior– Graduando na licenciatura de História pela FACH / UFMS e atuou como bolsista no PIBID-HISTÓRIA-FACH / UFMS entre 2020-2022.

 

Referências bibliográficas

CORREIA, Pedro; MOREIRA, Maria. Novas formas de comunicação: História do Facebook – Uma história necessariamente breve. ALCEU – volume 14 – n.28 - p. 168 a 187 - jan/jun 2014.

 

MEDEIROS, Liziany; MORALLES, Cíntia. A utilização do Facebook e do WhatsApp como ferramentas alternativas do ensino-aprendizagem. Revista Redin, FACCAT-RS. V.6. N°1. Outubro, 2017.

 

PANTOJA, Bruno Amorim. O Facebook como ferramenta pedagógica no ensino de História. 2019. Dissertação (pós-graduação em História) - Universidade Federal do Pará - Campus de Ananindeua, 2019.

 

SERAFIM, Maria L; SILVA, Francineide S. Redes sociais no processo de ensino e aprendizagem: com a palavra o adolescente. In: SOUZA, Robson P (org). Teorias e práticas tecnológicas educacionais. Campina Grande, EDUEPB, 2016, 228p.

4 comentários:

  1. A partir disso, como se utilizar do Facebook como ferramenta de ensino e, ao mesmo tempo, combater as fake news muitas vezes veiculadas no referido, de forma a não comprometer a qualidade do aprendizado de maneira prática?

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  2. Muito interessante o artigo. As mídias digitais são excelente ferramentas para um ensino plural, dinâmico e reflexivo. Como bem posto ao decorrer da leitura, essas mídias são amplamente divulgadas e utilizadas pelos estudantes. O autor pensa que seria possível criar um projeto de Facebook com estudantes do ensino fundamental? Ou seja, um projeto onde os próprios educandos criem e organizem uma plataforma com fins educativos? A idade e a falta de maturidade seria um problema? Além disso, vocês cogitaram ou utilizaram o TikTok como forma de divulgação?
    Nome: Isabela Barbosa Rodrigues

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  3. Exelente artigo. Bom no que tange as redes sociais em especial o Facebook como abordado aqui, como utilizar o Facebook sem perder o foco na utilização para ensino pedagógico?
    Nome: Daniel Carballo

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  4. Rubens, primeiramente te cumprimento pela redação do material e o trabalho, em conjunto com os demais pibidianos sob a coordenação do professor Carlos Eduardo. Diga-me vocês têm refletido sobre o aumento das interações com o uso de hashtags e outras estratégias com a intenção de aumentar interação das postagens? (Luciano Alonso Justino)

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